sábado, agosto 22

O Guerreiro das Alagoas






CRAUD entrevista Frank Cabral Por Denis Sarmanho/Craudphotos

Fotos: Arquivo pessoal Frank Cabral

Introdução


Shaper e empresário, hoje radicado no estado do Rio de Janeiro, Cabral com é mais conhecido vem dedicando grande parte de sua vida construindo sonhos na Cabral Surfboards, sua fábrica de pranchas. Empresa que fundou no Rio de Janeiro, na praia da Macumba no Recreio dos Bandeirantes.

Com muita persistência, trabalho, força de vontade e talento Frank Cabral vem tornando-se cada vez mais conhecido nas esferas do eixo Rio e São Paulo, e também no exterior, onde recentemente teve a oportunidade de fazer shapers para uma seleta lista de atletas tops do WCT.


A seguir vocês irão conhecer um pouco da pessoa simples, humilde e batalhadora, que vem com dedicação e amor desenvolvendo um grande trabalho em prol do surf brasileiro, conquistando cada vez mais espaço e uma fatia do mercado na região sul/ sudeste e desenvolvendo também um trabalho junto com representantes do norte/ nordeste do Brasil, com diversos surfistas em todo o Brasil tendo a oportunidade de surfar com seus foguetes.


CRAUD- Conta para nós quando foi que você percebeu que poderia tornar-se um shaper de pranchas e como foi o início deste aprendizado?


Frank Cabral- Adorei essa pergunta, me faz lembrar muitas coisas boas da época! Eu sempre fui um jovem inspirado pelas raízes do meu estado, criado perto da praia e da lagoa, pescando, vendo meu povo fazer artesanato, comecei a surfa com 11 anos estudava, etc... Muito novo já fazia as minhas artes e quando não tinha dinheiro ia para competições com vários artesanatos feitos por mim. O material que eu usava adquiria da natureza. Dava para se manter tranqüilo durante todo evento. Tudo começou no ano de 97 já era competidor estava em uma boa fazendo finais em campeonatos locais e estaduais, correndo as categorias Júnior e Open. Nesse corre entre viagens e treinos conheci uma família que sempre comparecia aos eventos, eram três irmãos, dois dos irmãos sempre participavam das mesmas categorias que a minha e o outro ficava olhando as baterias na praia, mais era muito bom no free surf, eu descobri depois que o free surf que estava sempre na praia vendo as baterias ou quebrando as ondas, era shaper, e estava se destacando no mercado nacional. Mais meu primeiro contato foi com o 'irmão do meio', que era fera e sempre estava nas finais, tinha sido campeão do Nordestino- Pro, que na época era conhecido como 'Limão Brahma'. Naquele momento Iniciava uma grande amizade, e muitas aventuras, treinos e busca por títulos. Com o passar do tempo estava freqüentando a casa da família e nesse mesmo lugar ficava a fábrica, foi quando fui convidado pelo shaper para fazer parte da equipe, representando nas competições e ajudando na produção, começei fazendo consertos, depois fui para lixador, laminador, e com o decorrer dos anos meu primeiro mestre abriu as portas da Shaper Room (sala de shapear). Foi um momento mágico ver aquela plaina cortando a espuma e jogando poeira por todos os lados, o barulho da máquina, naquele momento soube que tinha preenchido meu coração, e que estava começando minha história como shaper.


CRAUD - Quanto tempo você tem de shaper, e conta também porque você resolveu mudar-se do nordeste (Alagoas) do Brasil para a região sudeste?


Cabral- Nossa... O tempo passa muito rápido, né? Vou fazer o cálculo. Fora o tempo que fiquei aprendendo a consertar e conhecendo as matérias primas, depois passei para acabamento como hot coat, glass, polimento e laminação, são onze anos shapeando.
- Porque resolvi mudar-me da minha terra natal? Eu estava em um momento muito difícil da minha carreira, minha família não tinha condições de patrocinar a profissão que escolhi e o mercado no meu próprio estado não me dava à oportunidade de crescer,eu estava vendo todos os meus sonhos indo embora.


CRAUD- Com certeza a busca por novos horizontes foi uma grande batalha, fala pra gente um pouco desta transição?


Cabral- Vocês vão adorar essa parte, espero que sirva como exemplo para as pessoas que acham, que só se ganha uma batalha se tiver dinheiro, errado! Em 2004 decidi que lutaria pelos meus sonhos de todas as formas e que estava pronto para enfrentar todos os obstáculos da vida na busca de novos conceitos e de uma vida melhor, e fazendo o que amo. Naquele ano, sabia que teria que 'sair fora' para outros estados ou até mesmo outros países. Tentei primeiro ir para Sul, mais não deu certo, então em 2005 cheguei ao meu limite, decidindo que meu destino naquele momento era o Rio de janeiro. Mais como eu iria para o Rio sem dinheiro. Foi aí que me veio umaa idéia, a de fazer um mutirão entre família e amigos, e também vendi uns objetos que eu tinha. No final acabei comprando uma passagem de só de ida (risos), e levei uma grana que daria para me manter alguns dias. Cheguei ao Rio na metade do ano de 2005, com uma prancha feita por mim, uma mochila, e cheio de medo por causa das histórias de violência que sempre via na TV. Agora vocês não vão acreditar! Eu não conhecia ninguém, nunca tinha viajado para Rio e não tinha ninguém me esperando no aeroporto.
'O resto dessa história vou contar na minha biografia se Deus quiser'.(mais risos)


CRAUD- Há quanto tempo você faz pranchas, e quantas pranchas você já produziu?


Cabral- Contando o tempo que não era shaper, mais já trabalhava no processo de construção, como cito, na segunda pergunta são quatorze anos. Hoje são mais de quatro mil pranchas shapeadas por mim.


CRAUD- Como andam as vendas do mercado de pranchas no sul/sudeste do Brasil?


Cabral- Para minha equipe estão boas. Mesmo com a grande demanda de novos fabricantes entrando no mercado, e alguns com preços bem abaixo da tabela, criando o CAMELÔ DO SURFE, utilizando matérias primas de baixa qualidade, onde a prioridade para eles é vender pranchas. 'Vender pranchas' é conseqüência de um bom trabalho, e hoje estou mais preocupado em trabalhar o surf de cada cliente, e fazê-lo evoluir com o equipamento. Dos amadores aos tops do WCT, não importa, a prancha tem que servir como uma luva.




CRAUD- Como andam as vendas do mercado de pranchas no norte/nordeste?

Cabral- Para essas regiões e outras, comecei a vender á quatro anos. Depois que comecei a utilizar as vantagens do mundo da internet. Sei que lá(nordeste), os preços são bem mais baixos em relação ao Sul/Sudeste, até porque a custo de vida é outro, mais sempre aparecem compradores interessados nos meus produtos.


CRAUD- Qual ou quais as dificuldades em se tornar um shaper de pranchas no Brasil?

Cabral- Para que não tem dinheiro, são muitas! Foi o que aconteceu comigo, tive que começar de baixo, tomando muitos esporros e aprendendo com os erros, sendo muito humilde para que os shapers abrissem as portas de cada fábrica por onde passava. Agora quem tem uma renda melhor, hoje existem cursos profissionalizantes para shapers. Mais por experiência própria, tenho certeza que nessa área não importam a classe social que você tem, o tempo e a busca por novos conceitos é que vai fazer a diferença na profissão.


CRAUD- Fale um pouco sobre o Computer Desing System (CDS) e porque este sistema vem revolucionando o mercado de shaper no Brasil?

Cabral- Faz quatro anos que venho utilizando esse programa, além de outros como DSD e 3D. O CDS foi criado por um shaper renomado no mercado nacional e internacional, o shaper carioca Henry Lelot. Ele planeja as medidas de cada prancha a ser shapeada. Garantindo maior facilidade na repetição de boas pranchas e na correção de medidas necessárias para adequar o funcionamento da prancha ao estilo de cada surfista.


CRAUD- Quais as diferenças básicas nos shapers feitos para surfistas iniciantes e nas pranchas feitas para atletas que buscam alta performance, como os surfistas profissionais por exemplo?


Cabral- As pranchas dos atletas são mais personalizadas, levando em consideração variáveis como posicionamento do corpo e aplicação de força e peso sobre a prancha, entre outras considerações. É justamente este fator que faz um atleta evoluir mais rápido e obter maior regularidade em suas performances.



CRAUD- Como surgiu a idéia de dar nomes(exóticos) aos seus diferentes modelos de pranchas?

Cabral- Muito boa a pergunta! Eu adoro o meu país e respeito muito nossas culturas, amo a natureza e não podia deixar de fazer uma homenagem aos primeiros habitantes do nosso Brasil, os Índios! Os nomes que batizei em meus modelos são de 'Deuses Indígenas'.



CRAUD- Quais os modelos recomendados para surfistas iniciantes?


Cabral- Para quem vai dar suas primeiras caídas(sufadas), temos a CATXERÊ, nossa linha de funboards, e a outra opção é a BOTXATONIÂ, nossa linha de longboards. Para iniciantes que já colocam no corte e já mandam as primeiras manobras as opções são: a ALAMOA, nosso modelo para o dia-a-dia, a ARAPUCA, nosso modelo para quando o mar apresentar ondas muito pequenas, e o modelo que fez muito sucesso na década de 1970, a BAD FISH.


CRAUD- Quais os modelos recomendados para surfistas que buscam uma maior performance?


Cabral- Se ele surfar de shortboard, com certeza á ABEGUAR, um modelo para alta performance, ela foi projetada para campeões. Também temos uma opção muito boa entre as merrequeiras, a HAMÂY, um modelo projetado pra quem busca um surfe mais rápido com alto desempenho nas marolas.
- Para a galera que resgata as raízes do esporte competindo com longboards, tenho o modelo tri fins para alto desempenho.


CRAUD- Qual o diferencial de quem adquire um produto da qualidade da Cabral surfboards hoje em dia?

Cabral- O diferencial é que hoje a equipe tem quatro opções em matérias primas, o poliuretano + poliester (prancha convencional) que está a 60 anos no mercado, com matéria prima nacional e matéria prima internacional. A terceira opção é a nova tecnologia EPS/Epoxy, 30% a mais de flutuação e ideal para ondas de 0,5 m a 1,0 m. A quarta e ultima opção é a combinação do poliuretano com a resina Epoxy, que garante uma maior durabilidade.



CRAUD- Conta um pouco sobre esta experiência de trabalhar com um dos maiores shapers do mundo Henry Lelot, e shapear pranchas para os tops do WCT?


Cabral- Agradeço todos os dias a Deus, por ter colocado Lelot na minha vida. È assim que os mais íntimos o chamam! Ele foi o primeiro shaper que conheci e trabalhei aqui no rio, e foi à pessoa que abriu as portas para mim na época. O cara é o cientista das pranchas, sempre criando novos conceitos, trazendo novas tecnologias para o mundo do surfe. Fez pranchas para atletas de peso no cenário nacional e internacional, fez e ainda faz! Obtendo grandes resultados em sua carreira. Trabalhei três anos na produção das 'Lelot', no ínicio fui lixador e com passar dos meses me tornei Back shape. Às vezes parava para pensar, pois não acreditava que estava fazendo pranchas para alguns dos melhores surfistas do mundo e aprendendo todos os segredos com o mestre das pranchas. Obter a confiança e a responsabilidade de shapear as pranchas dos tops do WCT foi conseqüência da vida, com muitos trabalhos e estudos.



CRAUD- Deseja citar alguns atletas que já encomendaram ou surfaram ou surfam com os foguetes da Cabral Surfboards?


Cabral- Claro, Adriano Silva, Patrick Tamberg, Martins Bernardo, John Max, Bernardo Monteiro, Lucas Soares, Venâncio Pimenta, Luan Nascimento, Carlos Belo, Beto Lisboa.



CRAUD- Como é o seu dia a dia na fábrica?


Cabral- Passo a maior parte do dia no shaper Room, trabalhando, só paro quando um cliente, ou outros trabalhos do dia-a-dia aparecem.


CRAUD- Sobra tempo para surfar neste corrido e fascinante mundo dos negócios de pranchas. Quais os picos onde costuma surfar no Rio de Janeiro?


Cabral- Com certeza! Moro a dois minutos da praia e quando tem onda vou para água treinar, na maioria das vezes, ás caídas são bem cedo. Quando chega o verão a grande demanda de vendas aumenta muito por causa da temporada, e com tantos trabalhos a melhor opção para alguns fabricantes é o final de tarde das 18:00 hrs ás 20:00 hrs. Mais em dias de mar clássico, todo mundo vira vagabundo, não importa o horário, todos estão na água. Os picos?
São muitos mais vamos lá... Macumba, CCB, Secreto, Prainha, Grumari, Praia do Inferno, Marambaia, Recreio, Reserva, Barra da Tijuca, São Conrado, Leblon. Fora os picos que tem que sair da capital, como: Saquarema, Itacoatiara e etc... Graças a Deus o Rio é abençoado pelas opções de ondas e com as grandes ondulações que entram no litoral.




CRAUD- Comente sobre o lançamento do novo site da Cabral Surfboards?

Cabral- Fiquei muito feliz com o resultado, já tinham se passado dois anos que o site estava no ar e eu estava com varias idéias e arquivos para a versão 2009. Recebi também muitas idéias da equipe de Web Designers que cuida do site e de clientes que vem acompanhando a página desde o ínicio. Vou até aproveitar esse momento para agradecer a todos que compartilharam com desenvolvimento da versão 2009.


CRAUD- Algum novo projeto em vista?

Cabral- Tenho sim, e são muitos! Peço desculpa a todos, mais não vou divulgar quais são porque sou uma pessoa muito supersticiosa, que sempre espera acontecer. O que posso adiantar que até o verão de 2010 vamos ter grandes projetos prontos e realizados.



CRAUD- Fique a vontade para mandar alguma mensagem?


Cabral- Quero aproveitar esta oportunidade e mandar um recado para todos que levam o localismo a sério e que são a favor desse absurdo. "Galera, vamos acabar com essa hierarquia, deixando de impor domínio no local onde vocês surfam! Surfe é paz, relaxamento, cultura, tranqüilidade, harmonia, sentimento, educação, prazer, preservação".
"Surfe é vida".

Fiquem com Deus e aloha


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Site: www.cabralsurfboards.com
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